Ayrton - Resenha crítica - Ernesto Rodrigues
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Ayrton - resenha crítica

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Biografias & Memórias

Este microbook é uma resenha crítica da obra: Ayrton: o herói revelado

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 978-65-5568-199-4

Editora: Tordesilhas

Resenha crítica

Um pequeno piloto

Milton da Silva, dono de uma metalúrgica, nunca imaginou que seu filho seria um piloto de corrida. Essa possibilidade também não cruzou a mente de sua mulher, Neyde Senna da Silva, ainda que ela fosse uma entusiasta do automobilismo. No entanto, o gosto do filho já aparecia na infância.

Ayrton era um fã do desenho animado Speed Racer e ficou feliz quando seu pai usou seu conhecimento de metalurgia para construir um kart usando um motor de picadeira de cana. Ele já mostrou habilidade no volante do novo brinquedo e assim seria também quando entrasse para as competições infantis de kart. Com seis anos, Ayrton já conseguia vencer os meninos que tinham o dobro de sua idade. 

Também foi na infância que Ayrton conheceu Lilian de Vasconcellos, que se tornaria sua primeira e única esposa. Ele teria muitos namoros depois, mas jamais voltaria a se casar. Apesar de talentoso no kart, bastava começar a chover que Ayrton fazia voltas desastrosas. Todos os colegas que ele tinha ultrapassado já conseguiam ultrapassá-lo de volta na pista molhada. 

Treinando na chuva

Essa experiência criou uma espécie de obsessão pela chuva. Era só começar a chover e Ayrton parava tudo o que estava fazendo e corria para a pista de kart. Ele treinava por horas, até a pista secar. As habilidades que desenvolveu nessa época seriam muito úteis alguns anos depois. Durante a adolescência, ele se tornou um piloto de kart imbatível. 

1977, com 17 anos, já foi campeão sul-americano de kart. Depois, teve um bom desempenho no campeonato mundial de kart, chegando em sexto lugar. Então, decidiu apostar em outras modalidades e disputou o Campeonato Inglês de Fórmula Ford 1600, a categoria de entrada do automobilismo europeu. 

O talento de Ayrton foi descoberto na Europa. Ele recebeu propostas para disputar a Fórmula 3. Já nas primeiras corridas, as revistas europeias noticiaram o novo “fenômeno”. O piloto teve performances muito boas, o que chamou a atenção da imprensa e também das equipes de Fórmula 1. 

Ayrton Senna vs. Alain Prost

Embora achasse um piloto promissor, a Lotus não se interessou por Ayrton. O problema era o fato de ele ser brasileiro. O foco da equipe inglesa era um piloto de seu país. Por isso, optaram por outro piloto promissor, o jovem Nigel Mansell. Nesse momento, Ayrton percebeu que não bastava talento para entrar para a Fórmula 1.

Após ter fracassado ao tentar entrar para as grandes equipes da época, como a Lótus e a Williams, Ayrton procurou quem queria pagar por ele. A oportunidade veio na modesta Toleman. A partir daí, começou uma jornada de ascensão meteórica. Ele fechou sua temporada de estreia em nono.

Depois, migrou para a Lotus, onde continuou obtendo bons resultados. Em 1988 foi para a McLaren, dividindo a equipe com Alain Prost, a estrela do automobilismo na época, campeão mundial em 1985 e 1986. Nasceu aí uma grande rivalidade entre os dois pilotos. Foi nesse ano em que conquistou seu primeiro título mundial.

Tornando-se um fenômeno nacional

Alain voltou a vencer em 1990, disputando até o final as primeiras colocações com Ayrton. O brasileiro retornou à glória em 1990 e 1991, virando o piloto mais jovem a conquistar o tricampeonato na história da competição. Seu carinho com a imprensa brasileira, a amizade com o narrador Galvão Bueno e seu hábito de hastear a bandeira do Brasil ao vencer o fizeram um fenômeno no país.

Pela primeira vez, houve uma grande mobilização nacional pelo automobilismo, algo que só acontecia com o futebol. Se Ayrton já era conhecido pelas corridas, ele passou a ocupar espaços em outras revistas além das de automobilismo depois que conheceu a apresentadora Xuxa Meneghel.

Ele virou assunto nas revistas de fofoca, mesmo com o esforço para manter a relação discreta. Esse foi um dos namoros que mais tiraram o piloto do eixo. Ele era apaixonado pela apresentadora e não conseguia parar de falar dela para os amigos. No entanto, a antipatia pela empresária da apresentadora, Marlene Mattos, dificultava a relação.

Sai Xuxa Meneghel, entra Adriane Galisteu

O entusiasmo diminuiu por causa da falta de disponibilidade da Xuxa. Eram duas estrelas muito ocupadas que precisavam de atenção. O comportamento de Marlene Mattos, que tinha muita influência sobre Xuxa, foi uma barreira que Ayrton não conseguiu ultrapassar. Então, a relação terminou.

Ayrton teria mais sorte quando conheceu a jovem modelo Adriane Galisteu. Ele precisou contrariar a família, que era adepta da relação com Xuxa. A modelo conquistou Ayrton com sua disponibilidade e leveza. Ele ficava sisudo quando algo não dava certo nas corridas e Adriane contribuía para levantar o clima.

O piloto parecia mais sorridente para os amigos. A relação só ganhou um sabor amargo quando Ayrton se desentendeu com Adriane graças a uma conversa telefônica com um ex-namorado vazada, na qual ela disse que o piloto não era tão bom de cama quanto ele.

A rivalidade com Nelson Piquet

A conversa mexeu com velhos fantasmas de Ayrton. Alguns anos antes, ele havia trocado farpas com Nelson Piquet, também tricampeão mundial de Fórmula 1, em 1981, 1983 e 1987. No final dos anos 1980, Nelson e Ayrton brigavam pela mesma posição — a de símbolo do automobilismo brasileiro.

Nessa, Ayrton levou vantagem. O piloto, graças à atenção dada à imprensa e aos fãs brasileiros e a gestos simbólicos, como hastear a bandeira do Brasil ao vencer, conquistou uma base de fãs mais aguerrida. Só que essa rivalidade cruzava as barreiras da pista e chegava às revistas de fofocas, em uma constante troca de farpas.

Em uma delas, Nelson espalhou o boato de que o piloto “não gostava de mulher”. O automobilismo era um meio machista na época e Ayrton ficou extremamente abalado com a fala de Nelson. Ele nunca o perdoou. Isso criou uma rixa entre os fãs “piquetistas” e “sennistas”.

O fim da safra de títulos

Já passamos da metade do microbook e o autor conta que, no fim de 1993, a boa safra de títulos tinha terminado. Ayrton já não estava mais feliz com a McLaren. A Williams de Alain Prost e de Nigel Mansell ganhou os dois títulos anteriores e Ayrton decidiu migrar para a vitoriosa equipe, que tinha os melhores carros. No entanto, o timing não foi bom. 

Quando Ayrton fez a mudança, a Williams já tinha perdido toda a vantagem tecnológica que tinha em relação às outras equipes, graças a uma mudança no regulamento da Fórmula 1. Ele também descobriu que o carro da Williams era bem mais difícil de dirigir do que o da McLaren, o que o colocava em desvantagem em relação à Benetton, da jovem promessa Michael Schumacher. 

Em 1994, um acidente no primeiro treino classificatório do GP de San Marino já prenunciava que não seria uma etapa fácil. Ayrton ficou chocado quando seu compatriota, Rubinho Barrichello, bateu a mais de 200 quilômetros por hora, quase morrendo asfixiado com a própria língua, e sofreu uma leve amnésia temporária.

A falta de segurança na temporada de 1994

Ayrton ainda levaria outro choque. O jovem Roland Ratzenberger também se acidentou no segundo treino classificatório, no mesmo circuito de Ímola. Dessa vez, as consequências foram fatais e o jovem da Simtek não resistiu.

O piloto brasileiro jamais tinha visto alguém morrer em um campeonato de Fórmula 1. O último acidente fatal na competição acontecera há mais de uma década do GP de San Marino. Isso deixou Ayrton em dúvida se deveria correr no dia seguinte. Ele considerou deixar o esporte.

Na entrevista pós-treino, Ayrton reclamou da sujeira e do vento na pista, que tornava os carros mais ariscos. Ele também reclamou da nova regulamentação, que tirou a parte eletrônica do carro e aumentou as chances de acidentes.

O fim da assistência eletrônica

As novas regras da Fórmula 1 tiraram a assistência que auxiliava os pilotos. Elas também diminuíram a aerodinâmica dos carros e o tamanho dos pneus. Só a potência dos motores se mantinha a mesma. O resultado eram carros difíceis de pilotar, lentos nas curvas e rápidos demais nas retas. 

Era possível conduzir com cuidado, em temperaturas ideais. Só que, com calor, superfície lisa e carros disputando no limite por cada fração de segundo, aconteceria o que Ayrton chamou de “festival de rodadas e batidas”. O Williams, com sua má dirigibilidade usual, ficaria ainda mais perigoso.

Apesar da hesitação, Ayrton decidiu correr no dia seguinte. Ele pediu uma bandeira da Áustria, para homenagear o piloto que morreu no dia anterior. Antes de correr, ele pediu que sua equipe pessoal colocasse como prioridade na agenda uma reunião sobre a segurança nas pistas que teria com seu antigo rival, Alain Prost, e outras antigas estrelas da fórmula 1.

A batida

Quando a corrida começou, os problemas que Ayrton reclamava ficaram ainda mais evidentes. Um acidente aconteceu logo no começo, quando um dos pilotos da Benetton, J. J. Lehto, se envolveu em uma batida com o Lotus de Pedro Lamy.

Esse primeiro acidente não foi fatal. Mas já trouxe uma ideia do clima de insegurança da pista. Quando a corrida seguiu, Ayrton estava na liderança. Ele ainda tinha o desconforto de pilotar o rígido carro da Williams, bem diferente do McLaren dos anos anteriores.

Ele estava sendo pressionado pela promessa Michael Schumacher, pilotando um afinado Benetton, o que o induzia a fazer manobras arriscadas para manter a pole. Na passagem pela curva Tamburello, o Williams balançou violentamente e seguiu direto para o muro. 

A tragédia

A princípio, parecia um acidente comum, como vários pelos quais Ayrton passou durante a carreira. Só que um braço da suspensão do Williams entrou pela viseira e provocou um ferimento mortal. Os paramédicos já sabiam que ele quase certamente estava morto. No entanto, o atendimento foi feito, levando em conta a possibilidade, ainda que remota, de Ayrton não ter sofrido morte cerebral.

As esperanças do narrador e amigo Galvão Bueno se baseavam no pequeno movimento de cabeça que ele vira durante a transmissão. Depois, ao chegar no hospital, recebeu a notícia fatal. Alguns pilotos se revoltaram por não terem sido informados da gravidade do acidente durante a corrida. 

Do contrário, teriam encerrado-a ali mesmo. Os funcionários da Williams foram para julgamento, acusados de negligência por produzirem um carro perigoso e com uma coluna de direção mal soldada. No entanto, foram absolvidos por falta de evidências. O caso foi reaberto alguns anos depois, mas prescreveu. 

O fim de uma era

Alguns ex-pilotos, como Rubens Barrichello, Felipe Massa e Emerson Fittipaldi são enfáticos ao defender que houve alguma falha grave no carro, partindo da premissa de que um piloto do nível de Ayrton jamais cometeria um erro em uma curva como aquela. A morte de Ayrton é lembrada, até hoje, em detalhes, por um número imenso de brasileiros. 

Muitas pessoas se recordam de onde estavam e até do que disseram. O cortejo, com o caixão coberto com a bandeira do Brasil e acompanhado pelo “tema da vitória”, que tocava na rede Globo, mobilizou uma multidão de pessoas. Até seu ex-rival, Alain Prost, fez questão de comparecer à cerimônia. Depois, se tornaria um amigo da família Senna. 

A morte do ídolo marcou o fim do inédito contato brasileiro massivo com o automobilismo, quando o esporte foi consumido pela maior parte das famílias, com recordes de audiência. Isso é algo que jamais voltaria a acontecer. Para essas famílias, as manhãs de domingo nunca mais tiveram o mesmo significado.

Notas finais

A biografia de Ayrton Senna mostra a vida do automobilista brasileiro mais famoso do mundo. O fim de sua trajetória, com a aposentadoria de Nelson Piquet e Emerson Fittipaldi, marcaram o fim da era de campeões brasileiros no principal campeonato automotivo do planeta. Os sucessores, Rubens Barrichello e Felipe Massa, nunca alcançaram seus feitos.

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Quem escreveu o livro?

Ernesto Rodrigues é jornalista, professor universitário e documentarista. Atuou em veículos como Isto É,... (Leia mais)

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